Diante
de uma situação em que precisamos nos concentrar, mas vários estímulos nos
atraem simultaneamente, “escolhemos” apenas um para nos ater.
Você
está dirigindo por uma rodovia por onde não costuma transitar e sabe que a
saída está em algum lugar desse trecho da estrada, mas nunca a utilizou antes e
não quer perdê-la. Enquanto olha atentamente para um lado em busca do sinal de
saída, numerosas distrações se intrometem em seu campo visual: cartazes, um
conversível charmoso, o toque do celular.
Como
o seu cérebro se concentra na tarefa que está realizando? Para responder a essa
pergunta, neurocientistas em geral estudam o modo como o cérebro reforça sua
resposta para o que você está procurando, condicionando-se com um impulso
elétrico especialmente forte quando vê o que procura. Outro “truque”
neurológico pode ser igualmente importante: segundo um estudo divulgado pelo
periódico científico Journal of Neuroscience , o cérebro enfraquece sua reação
deliberadamente perante tudo o mais, de modo que, comparativamente, o alvo de
interesse ganhe destaque.E o mais curioso: fazemos isso sem sequer perceber.
Os
neurocientistas cognitivos John Gaspar e John McDonald, ambos pesquisadores da
Universidade Simon Fraser, na Colúmbia Britânica, Canadá, chegaram a essa
conclusão depois de pedirem a 48 universitários que fizessem testes de atenção
em um computador. Os voluntários deveriam identificar rapidamente um círculo
amarelo isolado em meio a um conjunto de círculos verdes sem serem distraídos
por um círculo vermelho ainda mais chamativo.
Durante
todo esse tempo os pesquisadores monitoraram a atividade elétrica no cérebro
dos estudantes por meio de uma rede de eletrodos conectados a seu couro
cabeludo. Como primeira evidência direta desse processo neural em ação, os
padrões registrados revelaram que o cérebro dos participantes do experimento
consistentemente suprimira reações a todos os círculos, exceto quando se
referia àquelas formas geométricas que estavam procurando.
“Neurocientistas
estão cientes da supressão há algum tempo, mas ela não tem sido tão estudada
quanto mecanismos que aumentam a atenção”, salienta McDonald. “A novidade é
que, com esse trabalho, determinamos como é possível evitar distração por meio
da supressão.”
O
neurocientista acredita que pesquisas desse tipo algum dia poderão ajudar os
cientistas a entender o que ocorre no cérebro de pessoas com problemas de
atenção, como o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH). E, em
um mundo cada vez mais permeado de distrações, o que é um importante fator para
acidentes de trânsito, qualquer insight sobre como o cérebro concentra atenção
deve despertar também a nossa.
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