Se eu fosse ensinar a uma
criança a arte da jardinagem, não começaria com as lições das pás, enxadas e
tesouras de podar. Eu a levaria a passear por parques e jardins, mostraria
flores e árvores, falaria sobre suas maravilhosas simetrias e perfumes; a levaria
a uma livraria para que ela visse, nos livros de arte, jardins de outras partes
do mundo. Aí, seduzida pela beleza dos jardins, ela me pediria para ensinar-lhe
as lições das pás, enxadas e tesouras de podar.
Se fosse ensinar a uma
criança a beleza da música, não começaria com partituras, notas e pautas.
Ouviríamos juntos as melodias mais gostosas e lhe falaria sobre os instrumentos
que fazem a música. Aí, encantada com a beleza da música, ela mesma me pediria
que lhe ensinasse o mistério daquelas bolinhas pretas escritas sobre cinco
linhas. Porque as bolinhas pretas e as cinco linhas são apenas ferramentas para
a produção da beleza musical. A experiência da beleza tem de vir antes.
Se fosse ensinar a uma
criança a arte da leitura, não começaria com as letras e as sílabas.
Simplesmente leria as estórias mais fascinantes que a fariam entrar no mundo
encantado da fantasia. Aí então, com inveja dos meus poderes mágicos, ela
desejaria que eu lhe ensinasse o segredo que transforma letras e sílabas em
estórias. É muito simples. O mundo de cada pessoa é muito pequeno.
Os livros
são a porta para um mundo grande. Pela leitura vivemos experiências que não
foram nossas e então elas passam a ser nossas. Lemos a estória de um grande
amor e experimentamos as alegrias e dores de um grande amor. Lemos estórias de
batalhas e nos tornamos guerreiros de espada na mão, sem os perigos das
batalhas de verdade.
Viajamos para o passado e nos tornamos contemporâneos dos
dinossauros. Viajamos para o futuro e nos transportamos para mundos que não
existem ainda. Lemos as biografias de pessoas extraordinárias que lutaram por
causas bonitas e nos tornamos seus companheiros de lutas. Lendo, fazemos
turismo sem sair do lugar.
E isso é muito bom.
Rubem
Alves, no livro “Ostra feliz não faz pérola”. Editora Planeta, 2008.
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O Leblon pré-novelas do Manoel Carlos.
Contos e crônicas.
O cotidiano do bairro.
Clipper, Pizzaria Guanabara, BB Lanches, Jobi, Bracarense
e outros lugares tradicionais do Leblon
são os palcos dessas histórias.
A Casa Encantada
Contos do Leblon
Edmir Saint-Clair
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