A maioria dos usuários não sabe que há
aplicativos que coletam e armazenam seus dados
Você já teve a sensação alguma vez de que o
seu smartphone ou tablet grava as suas conversas? Já recebeu algum anúncio,
digamos, de passagens aéreas para o Rio de Janeiro logo depois de falar com um
amigo que estava pensando em passar férias lá?
Lenda urbana ou realidade? Meu telefone pode realmente estar
"gravando" minhas conversas ao vivo?
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Funcionário do Facebook alertou sobre Cambridge Analytica meses antes de
escândalo.
A proliferação de microfones nos nossos
celulares e de autofalantes inteligentes - como o sistema Siri da Apple e a
Alexa da Amazon - pode nos levar a pensar que qualquer um pode escutar nossas
conversas e que nossa privacidade está ameaçada.
Zoe Kleinman, correspondente de tecnologia da
BBC, relatou no programa Bussines Daily a experiência que teve com seu celular
- e que a levou a desconfiar que terceiros acessaram o microfone do aparelho
para espioná-la.
"Há alguns anos, eu estava conversando
com minha mãe na cozinha da casa dela, e ela me contou que um amigo da família
tinha morrido em um acidente de trânsito fora do país. Lembro que o telefone
estava do meu lado".
A jornalista Zoe Kleinman começou a investigar se é possível que
estejamos sendo gravados.
"Foi um acidente dramático, e então
procurei saber se algum veículo de comunicação tinha noticiado (o acidente).
Digitei o sobrenome dele no mecanismo de busca, e o corretor me sugeriu
corretamente o resto do nome", diz.
"Como era possível o buscador me oferecer
essa possibilidade quando, na verdade, nenhum meio de comunicação tinha escrito
nada sobre o acidente?", pergunta ela.
Coincidência?
Pode ser. Pode ser também que outras pessoas
já tivessem buscado aquele nome antes no mecanismo, o que o levaria a
"deduzir" o restante.
De qualquer forma, Kleinman começou a
investigar se realmente era possível que nossos dispositivos estivessem
acessando nossas conversas.
Para isto, chamou um especialista no tema e o
desafiou a criar um programa que fosse capaz de "capturar" as
conversas pelo microfone de seu celular, a partir de um laptop.
"O que me pareceu mais desesperador é que
ele conseguiu desenvolver esse aplicativo em dois dias."
Existem programas muito acessíveis que permitem converter qualquer áudio
do seu telefone em texto.
Testado, o sistema se mostrou capaz de
converter em texto as conversas captadas pelo microfone do celular.
Se até Kleinman e seu especialista
conseguiram, o que poderiam fazer empresas gigantes de tecnologia?
"Na verdade é um risco grande para elas.
Espionar é ilegal. Não se pode colher dados de pessoas sem antes receber
permissão explícita para tal", diz.
Kleinman fez questão de ressaltar, porém, que
o que ela e o especialista demonstraram é que a espionagem era tecnicamente
possível. E não que estivesse necessariamente acontecendo.
"A conclusão a que chegamos é que, se é
possível, é provável que haja pessoas tentando ativar o controle de voz. Nos
rodeamos com esses dispositivos e eles estão nos ouvindo, à espera de palavras
de controle para ativá-los", diz Kleinman.
"Todas as empresas absolutamente negam
que usem os dados coletados por voz e neguem que compartilhem esses dados com
terceiros", diz a jornalista da BBC.
Software por cinco dólares
Outra pessoa que demonstrou como é fácil
hackear o microfone de alguém foi o cineasta holandês Anthony van der Meer. Ele
deixou seu telefone ser roubado de propósito, a fim de secretamente usá-lo para
registrar o ladrão.
Ele instalou um aplicativo muito simples no
aparelho que lhe permitia fazer tudo o que faz com seu telefone normalmente,
mas à distância.
Aplicativos para acesso remoto ao celular são bastante baratos - e legais
Esse aplicativo sempre funcionaria, mesmo que
o ladrão reiniciasse o smartphone.
"Eu podia ver contatos, mensagens, gravar
áudio, vídeo, tirar fotos", diz ele. Em suma, van der Meer tinha acesso a
tudo.
"Me dei conta do quanto compartilhamos
com nosso celular e de que esse é o dispositivo perfeito para espionagem,
porque as pessoas o levam com eles o tempo todo." Celulares costumam ter
um microfone, câmera e até sistema GPS, que permite que você saiba onde as
pessoas estão. Não nos damos conta do dano que ele pode fazer", diz van
der Meer.
Por exemplo: o cineasta ficou sabendo que o
ladrão frequentava abrigos para pessoas sem teto, depois de olhar os registros
de GPS.
Ele também gravou 30 segundos de conversa duas
vezes por dia. Se parecesse interessante, ele gravaria mais tempo.
O aplicativo que ele tinha instalado no
telefone roubado permitiu que ele visse quando o celular estava on-line. Também
enviava um texto de conversas gravadas para o e-mail de van der Meer.
Se as empresas monitoram nossos passos na rede, o que podemos fazer
sobre isso?
"É um aplicativo muito útil e fácil de
usar", diz ele.
É também um software legal e não muito caro.
"Eu acho que paguei cerca de US$ 5 para me inscrever e usá-lo para a vida
toda".
Outra coisa que Anthony Van der Meer destaca é
o poder do microfone.
"Mesmo que esteja no bolso, as conversas
foram bastante claras e nítidas".
"Na verdade, é muito assustador saber
que, mesmo para uma pessoa como eu, com habilidades tecnológicas limitadas, é
muito fácil."
E quando é tão fácil obter seus dados,
extorsão ou chantagem passam a ser um risco real.
"O aplicativo pode fazer streaming, ou
seja, gravar ao vivo o que a pessoa está fazendo naquele momento, seja em vídeo
ou áudio", afirma o cineasta.
Termos de uso
A especialista em segurança, Lisa Forte, diz
estar certa de que nosso celulares permitem que sejamos espionados, e chama a
atenção para os termos de uso, as mensagens que aparecem no celular quando
baixamos novos aplicativos, muitas vezes pedindo autorização para acessar os
microfones, localização e câmeras.
Ao usar lojas on-line como a Amazon, você
fornece um registro de hábitos de compra.
Ela lembra, sem citar o nome, de um aplicativo
que dizia, em seus termos de uso, que não ia "armazenar nenhum áudio em
nossos servidores".
"Para mim, é uma coisa muito estranha de
se dizer, porque se eles não acumulassem nenhum dos dados que coletam sobre
nós, eles diriam simplesmente que 'nenhum dado será coletado'."
"Eu acho que eles poderiam estar
transcrevendo o áudio e é isso que eles armazenam: um texto sobre nosso
áudio", explica Forte.
Há coisas que podem ser feitas para manter o
anonimato - como apagar o seu histórico de navegação.
Toda essa coleta de dados é usada, no caso
descrito por Forte, com um propósito comercial. Mas uma vez que as empresas
armazenam nossos dados, nada impede que hackers os roubem e os usem contra nós.
Como se proteger
Então, o que as pessoas podem fazer para se proteger?
"Eu nunca tenho uma conversa importante
perto do meu telefone, mas o que é importante com os smartphones é ter o
sistema operacional atualizado. Toda vez que uma atualização for lançada,
atualize imediatamente", recomenda Lisa Forte.
Se houver alguma suspeita ou falha no sistema
operacional do telefone, a atualização resolveria isso.
Finalmente, devemos ter muito cuidado com os
aplicativos que baixamos e com as permissões que concedemos a eles.
É realmente necessário que este jogo de que gostamos tenha acesso à
nossa câmera? Para quê?
"Outra coisa a ter em mente é que existem
aplicativos que ativam o microfone e isso nos consome dados e bateria",
lembra Kleinman.
Fonte: BBC Future
Fonte: BBC Future
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