Fotos e outros posts em redes como Facebook e Instagram
estariam
afetando a maneira como você vê sua própria imagem?
Mas você já se perguntou como todas aquelas imagens dos
corpos de outras pessoas - sejam elas um clique das férias de um amigo ou a
selfie de academia de uma celebridade - podem estar afetando a maneira como
você vê sua própria imagem?
Muito tem sido estudado ao longo dos anos sobre como os
principais meios de comunicação apresentam padrões de beleza irreais na forma
de celebridades retocadas com Photoshop ou modelos de moda extremamente magras.
Agora que influenciadores enchem nossas redes sociais, é fácil imaginar que
também essa mídia seja nociva quando se trata de imagem corporal.
Mas a realidade é mais sutil, e pode haver maneiras de
você organizar seu feed do Instagram de modo a se sentir mais feliz em sua
própria pele - ou, pelo menos, de modo a impedir que você se sinta pior.
Impacto da imagem
As pesquisas sobre redes sociais e imagem corporal ainda
estão em seus estágios iniciais e a maioria dos estudos é correlacional. Isso
significa que não podemos provar se, por exemplo, o Facebook faz com que alguém
tenha sentimentos negativos sobre sua aparência ou se as pessoas que estão
preocupadas com a aparência têm mais probabilidade de usar o Facebook.
Dito isso, o uso das redes sociais parece estar
relacionado com preocupações com a imagem do corpo. Uma revisão sistemática de
20 artigos publicados em 2016 identificou que atividades baseadas em fotos,
como rolar a tela do Instagram ou postar fotos de si mesmo, são particularmente
problemáticas quando acompanhadas de pensamentos negativos sobre o próprio
corpo.
Mas há muitas maneiras diferentes de usar as redes
sociais - você está apenas consumindo o que os outros publicam, ou você está
editando e fazendo o upload de selfies? Você está seguindo amigos próximos e
familiares, ou uma lista imensa de celebridades e influenciadores?
As pesquisas indicam que as pessoas com quem nos
comparamos são a chave para a questão.
"As pessoas estão comparando suas aparências às das
pessoas nas imagens do Instagram, ou em qualquer plataforma em que elas
estejam, e muitas vezes acabam se julgando inferiores", diz Jasmine
Fardouly, pesquisadora de pós-doutorado da Universidade Macquarie em Sydney,
Austrália.
Em uma pesquisa com 227 universitárias, as mulheres
relataram que tendem a comparar negativamente a própria aparência com as de
amigas distantes e com celebridades, mas não com membros da família, enquanto
navegam no Facebook. O grupo de comparação que tinha a ligação mais forte com
as preocupações com a imagem corporal era o de amigas distantes ou conhecidas.
Pesquisa apontou que olhar para celebridades fez as
mulheres participantes se sentirem mal sobre seus corpos - mas ver imagens de
pessoas conhecidas têm uma ligação ainda mais forte com preocupações
Fardouly relaciona isso ao fato de as pessoas
apresentarem uma versão unilateral de suas vidas online. Se você conhece bem
uma pessoa, saberá que ela está mostrando apenas seus melhores lados, mas se
ela for apenas uma "conhecida", você não terá nenhuma outra
informação para avaliar aquelas imagens.
Influência negativa
Quando se trata do círculo mais amplo de influenciadores
e perfis que você segue, nem todos os tipos de conteúdo são iguais.
Pesquisas mostram que imagens de "fitspiration"
(jogo de palavras em inglês que significa "inspiração fitness") em
especial - que normalmente apresentam pessoas bonitas fazendo exercícios, ou
pelo menos fingindo fazer - podem fazer com que você tenha um julgamento mais
rígido de si mesmo.
Amy Slater, professora associada da Universidade de West
England, no Reino Unido, publicou um estudo em 2017 no qual 160 universitárias
viam imagens de #fitspo (versão reduzida de #fitspiration), citações de
autocompaixão ou uma mistura de ambas, todas provenientes de perfis reais do
Instagram.
Aquelas que viram apenas o #fitspo marcaram menos pontos
no quesito autocompaixão, mas aquelas que viram citações de autocompaixão (como
"Você é perfeita do jeito que é") foram mais gentis com elas mesmas,
e se sentiram melhor com relação aos seus corpos.
Para aquelas que viram tanto as imagens de #fitspo quanto
as de citações de autocompaixão, os benefícios destas últimas pareceram superar
os pontos negativos das imagens de #fitspo.
Olhando citações de autocompaixão nas redes sociais, as
pessoas se sentem melhor sobre si mesmas
Outro estudo, publicado no início deste ano, envolveu
expor 195 mulheres jovens a conteúdo positivo sobre o corpo, postado por contas
populares na rede social como a @bodyposipanda, além de fotos mostrando
mulheres magras em biquínis ou equipamentos de ginástica, e imagens neutras da
natureza.
Os pesquisadores descobriram que expor mulheres a
conteúdos #bodypositive - "corpo positivo", em tradução literal, é um
movimento das redes sociais que busca promover o amor próprio e a pluralidade
da beleza - do Instagram pareceu aumentar a satisfação que sentem com seus
próprios corpos.
"Essas duas coisas juntas (mensagens de autocompaixão
e #bodypositive) começam a demonstrar que pode haver algum conteúdo que seja
realmente útil para a imagem corporal", diz Slater.
Mas também pode haver um aspecto negativo em relação às
imagens positivas sobre o corpo: elas ainda se concentram no corpo. O mesmo
estudo constatou que as mulheres que viram fotos positivas sobre o corpo ainda
se objetificavam.
Isso pôde ser observado quando foi solicitado que as
participantes escrevessem 10 frases sobre elas mesmas depois de olharem as
imagens. Quanto mais focadas na aparência as frases eram, em vez de habilidades
ou personalidade, mais alto a participante pontuava no quesito
auto-objetificação.
Isso significa que quando alguém escrevia "Eu sou
bonita", o comentário acabava sendo inserido "no mesmo bolo" de
coisas negativas que as pessoas diziam sobre seus corpos. Entretanto, essas
pessoas podem ter uma visão mais ampla sobre de onde vem sua beleza, incluindo
atributos interiores e físicos, diz Slater.
De qualquer forma, essa fixação com aparência é uma
crítica a esse movimento de visão positiva sobre o corpo que parece válida.
"É sobre amar seu corpo, mas continua sendo um grande foco na
aparência", afirma Fardouly.
Paixão
por selfies
Quando se trata de postar nossas próprias imagens nas
redes sociais, as selfies parecem ser o caminho.
Durante um estudo publicado no ano passado, Jennifer
Mills, professora associada da Universidade York, no Canadá, pediu a
universitárias que fizessem uma selfie em um iPad e a publicassem no Facebook
ou no Instagram. Um grupo só podia fazer uma foto e publicá-la sem edição, mas
o outro grupo tinha a chance de fazer quantas fotos quisesse e retocar sua
selfie usando um aplicativo.
Mills e seus colegas observaram que todas as
participantes se sentiram menos atraentes e menos confiantes depois de postarem
as selfies do que quando entraram no experimento - inclusive aquelas que tinham
permissão para editar suas fotos o quanto quisessem.
"Mesmo elas podendo fazer com que o resultado final
pareça 'melhor', elas ainda focam em aspectos de que não gostam em sua
aparência", afirma a professora.
Em um experimento, as mulheres se sentiram pior sobre si
mesmas depois de postar uma selfie - mesmo quando faziam retoques
Algumas participantes quiseram saber se alguém tinha
curtido a foto antes de decidirem como se sentiam sobre a postagem, apesar de a
questão das interações não fazer parte do estudo.
"Há essa sensação de ansiedade (ao postar uma foto)
e, em seguida, você recebe a aprovação de outras pessoas de que você está
bonita", diz Mills. "Mas esse sentimento não dura muito e você faz
outra selfie."
Em trabalhos anteriores publicados em 2017, pesquisadores
descobriram que passar muito tempo retocando selfies pode ser um sinal de que
alguém está sofrendo com alguma insatisfação com o próprio corpo.
Ainda assim, algumas grandes lacunas permanecem na
pesquisa sobre redes sociais e imagem corporal.
A maior parte do trabalho até agora tem se concentrado em
mulheres jovens, já que tradicionalmente elas têm sido o grupo mais afetado por
preocupações com a imagem corporal. Mas pesquisas incluindo homens estão
começando a mostrar que eles não estão imunes.
Por exemplo, um estudo descobriu que os homens que
relataram olhar o conteúdo do #fitspo masculino com mais frequência disseram
que comparavam a sua própria aparência à dos outros com mais frequência, e se
preocupavam mais em ter músculos.
Homens que olham o conteúdo do #fitspo se preocupam apenas com seus próprios músculos.
Pesquisas de longo prazo também são um próximo passo
importante, porque os experimentos de laboratório só conseguem fornecer uma
imagem superficial de possíveis efeitos. "Não sabemos ao certo se, com o
passar do tempo, as redes sociais terão um efeito cumulativo sobre as pessoas
ou não", diz Fardouly.
Então, por enquanto, como você deveria organizar seus
próprios feeds nas redes sociais se não quiser acabar se sentindo mal com seu
corpo?
Mills tem uma dica que deve funcionar para todos: guarde
seu telefone.
"Faça uma pausa e participe de outras atividades que
não têm nada a ver com a aparência ou façam você se comparar com outras
pessoas", diz ela.
Foco demasiado na aparência, nas redes sociais, pode ser
prejudicial, segundo pesquisadora. Ela sugere um feed mais equilibrado
Outra coisa boa a se fazer seria analisar criticamente
quem você está seguindo. Se você se deparar com um fluxo interminável de fotos
focadas na aparência da próxima vez que navegar pelo seus feeds nas redes
sociais, adicione um pouco de natureza ou viagem nessa mistura.
Afinal de contas, abrir mão das redes sociais
provavelmente é um passo grande demais para a maioria das pessoas -
especialmente enquanto os efeitos do uso em longo prazo ainda não estão claros.
Mas encontrar paisagens inspiradoras, comida deliciosa e cachorros fofos para
preencher seu feed do Instagram pode ajudar você a lembrar que há mais coisas
na vida do que sua aparência.
Fonte:
BBC Future
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