O
ano era 1972. Eu acabara de ganhar meu primeiro violão no último natal. Nas férias, passava a maior parte do tempo entre a praia, as peladas à tarde e o violão no
resto do tempo. Dias cheios e inesquecíveis.
O condomínio dos
Jornalistas, no Leblon, fervia de crianças e adolescentes.
Literalmente, dos 6 aos 20 tinha gente de todas as idades. Bem no centro do
condomínio havia um ringue de patinação que servia, principalmente, pro pessoal
ficar sentado nas bordas. No centro, tinha de tudo, menos gente patinando. Os
mais novos jogavam “roda de bobinho” aos sábados depois de sermos expulsos do
campo pelos mais velhos. Usávamos o ringue como campo, por mais estranho que possa parecer o formato redondo par se jogar futebol. À noite, a festa continuava no condomínio, com brincadeiras de polícia
e ladrão com 50 crianças em cada time, correndo por uma área que corresponde a
um quarteirão inteiro do Leblon.
Os
quase adolescentes, como eu, ficavam conversando e alguns tocando violão. Eu
ficava olhando e tentando repetir, no meu violão, a posição dos dedos que os mais velhos faziam . Eu levava
jeito e em pouco tempo estava tocando algumas coisas mais simples, America, James Taylor, Carole King e outros adocicados do gênero. Dos
brasileiros eram poucos que faziam sucesso na nossa roda; Novos Baianos
surgindo, Milton Nascimento, Mutantes e alguns dessa tribo.
Os
FIC (Festivais Internacionais da Canção da Globo) estavam em decadência e já
não despertavam tanto a nossa atenção como antes. Só a minha, que sempre fui ligadíssimo
em música desde que me entendi por gente e me interessava por tudo.
Acompanhava pelo jornal o passo a passo das etapas e sabia quem eram todos os
participantes, tanto da fase nacional quanto da internacional.
Nessas férias,
quem fazia sucesso no Jorna (como os moradores sempre chamaram, carinhosamente,
o condomínio dos Jornalistas) eram os Novos Baianos. Naquela noite, depois da décima repetição de “Preta, Pretinha”, resolvi que era hora de
subir pra casa, bateu o sono.
Quando
cheguei à minha portaria já estava, no hall esperando o elevador, um cara jovem,
muito magro e com os cabelos penteados de um jeito engraçado. Puxou conversa
quando viu meu violão. Falou que era da Bahia e estava na casa dos primos,
Horácio e Heloísa, que eu conhecia desde sempre, apesar de serem mais velhos do
que eu. Ele disse que era músico e que iria cantar no FIC da Globo.
Fiquei entusiasmado com aquilo, o cara era muito simpático e gente boa, o que não era comum, já que os “caras mais velhos” não davam guarida pros pirralhos como eu. Quando chegou meu andar, abri a porta, me voltei para ele e perguntei:
Fiquei entusiasmado com aquilo, o cara era muito simpático e gente boa, o que não era comum, já que os “caras mais velhos” não davam guarida pros pirralhos como eu. Quando chegou meu andar, abri a porta, me voltei para ele e perguntei:
-
Como é seu nome? Vou assistir você na TV.
Ele
respondeu sorrindo:
-
Raul Seixas.
O Leblon pré-novelas do Manoel Carlos.
Contos e crônicas.
O cotidiano do bairro.
Clipper, Pizzaria Guanabara, BB Lanches, Jobi, Bracarense
e outros lugares tradicionais do Leblon
são os palcos dessas histórias.
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