Como sentimentos e palavras são expressos no rosto das pessoas;
Elas dizem mais do que as palavras.
Elas dizem mais do que as palavras.
Para quem sabe ver, dizem até aquilo que
as palavras às vezes escondem.
Por isso, a ciência procura tanto decifrar o código das expressões faciais.
Por isso, a ciência procura tanto decifrar o código das expressões faciais.
Diante
da expressão de zanga do gordo Oliver Hardy e do ar de choro do magro
Stan Laurel é difícil conter o riso. Para saber a sério o que esse riso
tem a ver com a sensação de alegria, pesquisadores americanos convidaram
dois grupos de estudantes para uma sessão de filmes da mais
bem-humorada dupla da história do cinema. Enquanto suas trapalhadas se
sucediam na tela, as reações fisiológicas dos jovens eram monitoradas
por meio de eletroencefalogramas. Foi possível verificar assim que os
membros de um dos grupos saíram da sala literalmente menos felizes - não
por acaso, talvez, tratava-se daqueles a quem se havia pedido que
procurassem não esboçar sequer um sorriso durante a exibição das
comédias.
Era
onde os pesquisadores queriam chegar, comprovando a surpreendente e
controvertida teoria de que a expressão facial não apenas traduz um
sentimento mas também o estimula. Ou seja, quem ri porque está feliz
fica ainda mais feliz porque ri. Essa experiência faz parte de um
fecundo campo de estudo da Psicologia contemporânea, que pretende
decifrar o mais ostensivo dos mistérios do comportamento humano - o
sentido das expressões faciais, como o riso e o choro, o espanto e o
desdém, a raiva e o nojo. A linguagem do rosto é provavelmente a forma
mais comum de comunicação entre as pessoas: fala-se mais com caras e
bocas do que com palavras. Com certeza, falam-se também mais verdades.
Os sinais visíveis do que vai dentro de cada um muitas vezes contradizem
a arrumação racional das palavras.
Sentir
determinada emoção é sempre experimentar determinada reação
fisiológica. Entre outros sintomas, por exemplo, a tristeza é a
diminuição do ritmo respiratório; a raiva e o medo têm em comum a
secreção do hormônio adrenalina, que dispara o coração preparando o
organismo para o ataque ou a fuga; por sua vez, a sensação de alegria, a
emoção testada naquela experiência americana, é um aumento na produção
de endorfinas, hormônios analgésicos e calmantes naturais, que criam o
bem-estar da felicidade. A quantidade desse hormônio era muito maior no
organismo dos estudantes que puderam rir à vontade nos filmes do Gordo e
o Magro.
Alguns
pesquisadores acreditam que os nervos do rosto, ao informar o cérebro
da posição exata dos músculos faciais, desencadeiam as reações
fisiológicas correspondentes às diversas emoções. A idéia é instigante
mas não é nova. O psicólogo e filósofo americano William James
(1842-1910) propôs que, diante de um perigo, uma pessoa não se põe a
correr propriamente porque sente medo, mas sente medo porque corre - e a
teoria tem seguidores até hoje. O fato é que atualmente a maioria dos
cientistas admite o caminho de mão dupla: O que se expressa no rosto
pode afetar a reação do cérebro, concorda o neurologista Luiz Augusto
Franco de Andrade, da Escola Paulista de Medicina. Mas a recíproca,
segundo o médico, é verdadeira.
Pacientes
com mal de Parkinson, em que falta no cérebro a substância dopamina,
têm bastante dificuldade de fazer expressões faciais, exemplifica
Andrade. Do mesmo modo, suponho que, se a atividade bioquímica do
cérebro estiver acentuada, a pessoa mostrará melhor no rosto aquilo que
sente. Mas afirmar que um jogo preciso dos músculos da face reforça ou
mesmo cria uma sensação é algo que pode fazer muita gente torcer os
lábios de desconfiança. Pois, se fosse assim, argumenta-se, um japonês
educado para não expressar sentimentos negativos ficaria menos triste ao
encarar uma situação pesarosa com aquele sorriso que os ocidentais
dizem ser tipicamente amarelo.
A
discussão, na verdade, existe desde 1872, quando o naturalista inglês
Charles Darwin (1809-1882) defendeu em seu livro A expressão das emoções
em homens e animais que algumas expressões faciais são comuns ao gênero
humano. Estudos sistemáticos comprovando a tese de Darwin, porém, se
firmaram só há uns trinta anos. O psicólogo americano Paul Ekman, que
estuda caras e bocas desde 1953, é autor de uma famosa experiência a
respeito. Em Tóquio, ele convidou pessoas para assistir, uma a uma, a um
documentário com cenas de acidentes, queimaduras e cirurgias, enquanto
filmava suas reações - sem elas saberem, é claro.
Na
piores cenas do documentário, o espectador japonês, ao lado de quem
Ekman estava sentado, dava um sorriso; então o psicólogo se levantava,
fingindo que ia dar um telefonema. O resultado apareceu com nitidez no
filme feito às escondidas: toda vez que ficava sozinho, o espectador não
sorria, mas contorcia o rosto de horror diante das imagens sangrentas,
como faria qualquer pessoa não guiada por uma cultura que manda
disfarçar sentimentos negativos. Segundo Ekman, toda cultura impõe as
chamadas regras de exibição, normas que inibem ou enfatizam determinada
expressão facial.
Entre
os brasileiros uma clássica regra de exibição é a de que homem não
chora, exemplifica o psicólogo Ailton Amélio da Silva, da Universidade
de São Paulo, autor de uma tese sobre as expressões faciais das emoções.
De acordo com ele, os psicólogos afirmam que a cara de no mínimo sete
emoções é idêntica em quaisquer seres humanos. À medida que as enumera, o
rosto de Ailton, um psicólogo que passou mais de um ano treinando
músculos faciais em frente ao espelho, vai se transfigurando. Enquanto
fala, monta traço a traço as máscaras do medo, da raiva, da surpresa, do
nojo, do desprezo, da tristeza e, finalmente da alegria. Como notas
musicais que compõem infinitas melodias, as expressões básicas se
misturam, formando outras muito complexas, compara.
O
que torna mais difícil decifrá-las, porém, é seu tempo de vida - muitas
vezes não duram mais de 1 segundo. Brevidade, contudo, não quer dizer
escassez: quanto mais complexa for uma espécie do ponto de vista
evolutivo, maior será a capacidade de seus membros de criar expressões
diferentes com o rosto. Por isso, de todos os seres deste mundo nenhum é
tão careteiro como o homem, cujos 22 pares de músculos faciais - metade
do lado esquerdo, metade do lado direito - podem formar mais de mil
expressões. Se alguém conseguisse demonstrar voluntariamente toda essa
habilidade, o espetáculo terminaria porém em alguns minutos, tão ágeis
são esses músculos.
A
capacidade de distinguir expressões parece ser herdada, fazendo parte
do que os cientistas chamam memória biológica. Numa experiência pioneira
realizada por pesquisadores americanos, macacos criados em regime de
isolamento, sem verem sequer rostos humanos, postos diante da fotografia
de outro macaco com expressão agressiva, apresentavam reações típicas
do medo. Pesquisas como esta reforçam a teoria de que a compreensão da
linguagem silenciosa da face é fundamental à sobrevivência. Tanto nos
animais como nos seres humanos, essa compreensão pode variar.
Especialista
em crianças, ela reconhece a importância do rosto na educação. Conta, a
propósito, o caso de uma garotinha de 4 anos que nas sessões de terapia
sempre desenhava uma bruxa para representar a mãe - por sinal, uma
mulher muito bonita. Por acaso, certo dia a psiquiatra viu a mãe dar uma
bronca na filha e, ao observar seu rosto transtornado de raiva, matou a
charada dos desenhos da menina. Comenta Maria Cristina: Uns tapas no
bumbum não fazem mal, desde que o adulto não expresse raiva no rosto.
Caso contrário, a criança entende que está sendo punida não porque fez
algo errado mas porque não é amada.
No
entanto, a própria psiquiatra, mãe de dois filhos pequenos, reconhece
que é preciso muito autocontrole para não exibir raiva diante de uma
malcriação. Se é verdade que tudo que está na cara é um sentimento.
Posso mostrar no rosto o meu cansaço, diferencia o psicólogo Arno
Engelmann, da USP. Nascido na Alemanha, há 59 anos, ele vive há 51 no
Brasil e há 25 estuda o que chama estados subjetivos - um conceito que
se aplica tanto às emoções quanto às sensações não muito localizadas,
sono, interesse, distração, como define.
Após
longa e criteriosa pesquisa, Engelmann conseguiu determinar nada menos
de 370 estados subjetivos. Agora, ele está entusiasmado com um novo
projeto - gravar o rosto de entrevistados, na tentativa de captar
expressões faciais, se é que existem, relacionadas a cada um daqueles
estados. É uma pesquisa pioneira no Brasil, revela, os olhos brilhando
de orgulho. Engelmann lembra que há expressões não provocadas por
emoções, como os emblemas - gestos mudos que substituem palavras.
Exemplos: mostrar a língua no lugar de xingar, piscar os olhos em sinal
de aprovação, abrir a boca em vez de dizer que ficou boquiaberto de
espanto e por aí afora. Engelmann também cita os chamados sinais de
conversação, a pontuação de um diálogo que aparece no rosto. As vezes,
só pelo olhar do outro dá para notar que ele quer nos interromper para
fazer uma observação, diz o psicólogo.
O
olhar, de fato, é a expressão suprema. Geralmente, enquanto se fala,
não se olha o tempo inteiro para o interlocutor. Este, de seu lado,
também ora desvia os olhos, ora volta a encarar. Desconfortável sempre é
o olhar fixo do outro, com toda probabilidade uma herança do medo
experimentado pelos ancestrais. Psicólogos observaram macacos Rhesus
reagirem com violência apenas porque o pesquisador os encarava olho a
olho. Não só quando sustentados ou quando zanzam de um lado para outro
os olhos se exprimem. As pupilas, garantem os cientistas, também revelam
segredos. Em condições idênticas de luz - portanto, sem razões
fisiológicas para se contrair ou se dilatar -, as pupilas diminuem
diante de uma imagem desagradável e aumentam diante de algo prazeroso,
por exemplo, uma pessoa atraente. Esse é, aliás, um dos indicadores mais
comuns do flerte. Outros sinais de namoro que transparecem na face -
habitualmente identificados como a expressão viva de quem está amando -
resultam do fato de os músculos ficarem mais tensos, com isso retendo
mais sangue.
Mas
é na boca que nasce a mais humana das expressões: o sorriso. A careta
de raiva, por exemplo, é muito semelhante tanto na aparência quanto nos
músculos envolvidos à exibição dos dentes que caracteriza o focinho de
qualquer mamífero antes de partir para o ataque. Já o sorriso - e não só
o da Mona Lisa - é sempre enigmático. Ao menos o sorriso genuíno, que
derrama alegria. Isso porque o movimento facial do riso aparece apenas
nos primatas, mas com a função de apaziguar outro animal; ao se sentir
ameaçado, o macaco repuxa os lábios para cima e emite um som, parecido
com o de uma risada. Segundo estudiosos, tal sorriso simiesco promove um
efeito calmante na macacada.
Esse
mesmo sorriso pálido e sem graça também aparece no rosto humano. Há
histórias de guerra relatando episódios de soldados que se sentiram
desarmados quando o inimigo lhe sorriu. Mas é um mistério como, na
evolução do homem, do riso inseguro brotou a risada feliz. Outra
particularidade humana é fingir no rosto aquilo que não sente. E o
sorriso é a arma mais usada da mentira, porque, segundo os cientistas,
além de ser uma expressão positiva, de todos os componentes do rosto o
homem tem mais controle sobre a boca. Assim, o sorriso mascara a
tristeza, aumenta na aparência a dose de satisfação de rever alguém,
esconde rancores, afirma o desprezo. Reconhecer o verdadeiro riso é uma
das últimas etapas de um treinamento para identificar expressões
faciais, informa o psicólogo Ailton Amélio, da USP.
No
entanto, se todos podem controlar a boca, apenas uma em cada dez
pessoas consegue impedir a formação de rugas na testa quando o sorriso
vem disfarçar a tristeza. Mais difícil ainda é camuflar sorrisos falsos,
ditados pelas convenções sociais. A verdadeira risada contrai os
músculos orbiculares, em torno dos olhos, formando pequenas rugas
laterais, feito pés-de-galinha. De acordo com os especialistas, mesmo os
mentirosos profissionais, como os atores, que reproduzem esses
movimentos menos sujeitos ao controle da vontade, não o fazem no ritmo
natural.Pois um riso nasce aos poucos, se sustenta e esmorece - tudo
isso em cerca de 10 segundos. O falso sorriso pode surgir do nada e
desaparecer de repente. O austríaco Sigmund Freud, fundador da
Psicanálise, que sabia das coisas, sabia também que a face humana é um
baú de informações sobre os sentimentos mais íntimos. Quem tem olhos
para ver pode se convencer de que nenhum mortal consegue guardar um
segredo, escreveu ele. A traição brota pelos poros. O que ele queria
dizer está na cara.
Retratos das emoções
Quando
se olha alguém, um dos erros mais comuns é ver medo em um rosto apenas
surpreso. Isso porque, mesmo quando as emoções não se misturam no
semblante, há músculos que trabalham em mais de uma expressão. Mas o
olhar atento não se engana, pois cada sentimento traça sua máscara
própria no rosto humano, como mostra a seqüência de caras do psicólogo
Ailton Amélio da Silva, da Universidade de São Paulo.
Medo -
As sobrancelhas também se erguem, mas se aproximam por causa da
contração do músculo piramidal do nariz - o único da face que nenhum
treino ensina a dominar - e assim formam rugas verticais na testa; as
pálpebras inferiores e superiores sobem, diminuindo os olhos; a boca,
aberta ou fechada, fica tensa.
Nojo -
As sobrancelhas se abaixam, sem se aproximar; o lábio superior é puxado
para cima, empurrando as bochechas na mesma direção; assim, podem
aparecer rugas no nariz; o lábio inferior se contrai para fora.
Surpresa -
Ao se erguerem, as sobrancelhas costumam formar rugas horizontais na
testa; as pálpebras superiores sobem, sem tensão; o maxilar relaxa,
deixando a boca entreaberta e abaixando as pálpebras inferiores - daí os
olhos se arregalarem.
Tristeza -
Apenas o canto interno das sobrancelhas se eleva; os cantos da boca
caem; de modo geral, todos os músculos faciais perdem tônus, criando a
expressão típica do abatimento.
Alegria -
Os lábios são puxados para trás e para cima, empurrando as bochechas;
as pálpebras inferiores também se elevam e aparecem rugas na parte
externa dos olhos, feito pés-de-galinha; um detalhe fundamental é que
não existe tensão na testa.
Raiva - As sobrancelhas se aproximam, só que abaixadas; a tensão em torno da boca comprime os lábios.
Desprezo - Os lábios se comprimem, um contra o outro, e um canto é puxado para cima.
Com
menos de duas semanas, o recém-nascido já tenta imitar expressões
faciais do adulto. Assim, abre a boca e faz beicinho, franze o cenho,
arregala os olhos. Aproximadamente no terceiro mês, o bebê aprende a
sorrir sempre que alguém se aproxima. Na verdade, nessa fase ele reage
com um sorriso, como se agradecesse a companhia, toda vez que enxerga o
que os cientistas chamam T - as linhas formadas pelos olhos, nariz e
boca. Numa experiência clássica, cientistas aproximaram de uma criança
um T esculpido em madeira e obtiveram o mesmo sorriso. Por volta do
oitavo mês, porém a criança já reconhece rostos. Então sua face começa a
revelar todos os matizes do humor, mostrando que aprendeu o bê-á-bá da
fisionomia.
Por Lúcia Helena de Oliveira
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A Casa Encantada - Contos do Leblon
Edmir Saint-Clair
"As
primeiras festinhas foram na AABB, Monte Líbano e Caiçaras, na Lagoa.
As inesquecíveis foram no Clube Leblon e no Clube Campestre. Na saída
bom era comer na Pizzaria Guanabara que tinha uma pizza calabreza
deliciosa e vendia pedaços no balcão."
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