O que é uma pessoa honrada?
Aquela que, entre outras
coisas,
tem a percepção da piedade,
aquilo que precisa ser resguardado na
convivência.
Uma pessoa autêntica tem a autenticidade grudada à piedade. Eu não
posso, em nome da minha autenticidade, dizer tudo o que penso. Eu não posso, em
nome da minha autenticidade, desqualificar apenas porque quero ser
transparente. Ser autêntico não significa ser transparente de maneiro contínua.
Ser transparente para si mesmo? Sem dúvida, mas dizer
tudo o que pensa numa convivência é ofensivo. O exemplo do menino de 5,6 anos
de idade que traz o presente clássico do Dia dos Pais feito pelas próprias
mãos. Chega da escola com aquelas coisas “horrorosas”, feitas com casca de ovo,
palito de sorvete, que chegam a cheirar mal. “Pai, ta
bonito?” É óbvio que o pai dirá que está maravilhoso
naquela circunstância. A ideia do elogio ou do não elogio tem de ser
circunstancializada.
Uma pessoa autêntica não aquela que é o tempo todo
transparente. Se ela não tiver percepção de circunstância, ela se torna
inconveniente. “Mas é assim que eu penso”. O fato de pensar assim não exime a
pessoa de ser moderada. Isso não a leva a perder a autenticidade, apenas a
resguardar a expressão de modo como é. Porque, como eu sou com os outros, tenho
de ser de fato o que sou, mas não posso desconsiderar que outros existem. É
preciso cautela, em nome da autenticidade, para não ser ofensivo.
Nem descambar para o terreno da crueldade. Por exemplo, a
criança chega com o presente e o pai diz: “Não está, não. Você devia ter feito
uma coisa bonita”. Ora, na condição daquela criança, ela fez algo belíssimo. E
é belo porque ela fez no melhor da sua condição.
Não é a mesma circunstância de um pai ou de uma mãe que
percebem que a criança fez algo com desleixo. Nesse caso, não deve elogiar por
elogiar, porque isso deseduca. Se um filho ou uma filha traz um desenho que
pode ser precário, mas que, naquela circunstância, naquela idade, naquele modo,
é o melhor que a criança poderia fazer, é preciso elogiar em alto estilo. É
sinal de afeto imenso. Mas, se o desenho apresentado é resultado de um
desleixo, não se deve elogiar.
Eu posso dizer a clássica fase de que educa:
“Você é capaz de fazer melhor do que isso que está me mostrando”. Isso é
educação.
O que é crueldade? Dizer: “Isso é péssimo”. Quem educa precisa
corrigir sem ofender, orientar sem humilhar. Precisa conviver com essa virtude,
que é a piedade.
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