No
futuro, a criatividade será o maior
diferencial entre homem e máquina,
diz a prof. britânica Lynda Gratton.
Especializada em gestão e na relação entre trabalho e tecnologia, ela também vislumbra uma verdadeira revolução na vida
profissional,causada pelo aumento da expectativa de vida.
QUEM É LYNDA GRATTON
Formação:
Especializada em gestão e na relação entre trabalho e tecnologia, professora da
London Business School
Obra:
"The Shift: The Future of Work is Already Here" ("A mudança: O
futuro do trabalho já está aqui", inédito no Brasil)
Folha
- Sua pesquisa sobre tecnologia começou a partir de visita a uma vila masai, na
Tanzânia, quando viu um morador usando celular. O que isso tem de tão especial?
Lynda
Gratton - Mostra que quando temos tecnologia pela primeira vez, a usamos para
amplificar o modo como vivemos. Para o masai, o aspecto mais importante da vida
são seus animais. Por isso, na minha visita, ele usou o celular para conversar
com o irmão sobre as cabras da família. Talvez hoje o masai use seu celular
para saber sobre clima ou até para encontrar uma namorada em uma vila vizinha.
Qual
o impacto da criatividade no futuro do trabalho?
A
tecnologia está substituindo os humanos em trabalhos previsíveis, como anotação
de dados, linha de produção e até alguns serviços jurídicos e contábeis. Vamos
necessitar que a força de trabalho esteja empenhada na criação de produtos e
serviços e em jeitos inovadores de entregá-los. Já o trabalho rotineiro será
feito de forma mais efetiva pela tecnologia.
É
possível aprender essas habilidades criativas na escola?
O
modo como desenhamos nossas instituições tende a limitar a criatividade. O
desafio das organizações é ajudar as pessoas a redescobrirem ideias e
comportamentos criativos que antes eram naturais para elas. E, também, desenhar
o trabalho de modo a encorajar as pessoas a pensar diferente, a falhar e
continuar tentando.
O
processo de alteração do homem pela máquina, conhecido pelo termo augmentation,
deve impactar o trabalho em breve ou ainda leva tempo?
O
futuro do trabalho vai ser definido por humanos e computadores trabalhando em
sintonia, através da união entre ambos. Isso já está acontecendo. Basta pensar
na nossa relação com aplicativos ou em nossos celulares e como eles permitem
que facilmente nos comuniquemos em tempo real com outros ao redor do mundo ou
que nos movamos entre o ponto A e o B rapidamente. Isso vai aumentar nos
próximos anos.
A
senhora diz que dinheiro não deve ser o único aspecto no trabalho. Quais os
outros?
As
organizações precisam oferecer aos empregados recursos intangíveis, como
treinamento de habilidades, vitalidade, bem-estar e capacidade de desenvolver
redes que os ajudarão a se mover entre carreiras no futuro.
As
organizações devem oferecer aos funcionários a capacidade de aprimorar sua
empregabilidade. As mais inovadoras já começam a experimentar. Muitas pessoas
querem focar em sua saúde e, ao mesmo tempo, sabem da necessidade de aumentar
seu grau de empregabilidade e sua habilidade de se transformar, já que terão
uma vida profissional mais longa.
Qual
o impacto da maior expectativa de vida no trabalho?
O
modo como estruturamos o trabalho é baseado em um modelo de vida com três
estágios: educação, trabalho e aposentadoria. Esse modelo vai desmoronar.
Muitas pessoas não poderão se aposentar aos 60 anos, se pudermos viver bem até
100 anos.
Além
disso, ficar aposentado por 30 anos não é atraente para o bem-estar social e
psicológico. Vamos estender o trabalho até uma idade avançada e criar mais
períodos de descanso, recuperação e reciclagem durante a vida profissional.
Vamos mudar do modelo de três estágios para um de múltiplos níveis.
As
empresas precisarão criar mais opções para permitir às pessoas períodos de
descanso, de recuperação e de treinamento e estudo. Também devem entender que a
idade não vai mais ter relação direta com o estágio da vida, já que cada um
deverá usar as diferentes opções que existem para sequenciar a vida como achar
melhor.
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