Forjado Por Zygmunt Bauman, sociólogo polonês que residiu a maior parte da vida na Inglaterra, o termo Modernidade Líquida veio para substituir o termo pós-modernidade com o qual ele trabalhava originalmente.
A noção de Mundo líquido, mundo sem forma.
Na minha infância todas as coisas geravam certezas. Me criaram com certezas absolutas.
O ideal era fazer o concurso para o Banco do Brasil ou qualquer outro concurso do gênero. Ou seja, era fazer isso a vida inteira e depois morrer. As certezas eram dadas e, na maioria das vezes, colhidas por aqueles que lhes acatavam as regras.
O mundo dos meus pais já não existe mais, um mundo de certezas. Mães e pais batiam nos filhos certos de que estavam fazendo o que era correto, essa era a regra que eles haviam aprendido. Batiam sem culpa alguma. Sem trauma, sem psicologia e sem questionamentos porque era o “certo”. Era assim desde as avós das nossas avós. Era época de certezas absolutas.
Sob o prisma da liquidez de Bauman, essa época está irremediavelmente obsoleta.
Zygmund Bauman simboliza em seus escritos a sociedade conectada, permanentemente ligada a internet e que desconhece a noção de individualidade e intimidade.
A sociedade líquida é essa que comunica a foto do almoço, que posta “estou indo deitar”, “partiu academia”, que troca mensagens sobre tudo que faz o tempo todo. Não tem mais vida interna, vida interior, íntima. Quanto mais jovem, mais assim estão sendo.
Já que a morte por idade avançada é inevitável, por conseqüência teremos num futuro próximo uma geração inteira com essas características.
A liquidez que Bauman identifica atinge todos os setores das relações humanas, principalmente, os valores. As antigas definições de valores e circunscrições morais deixaram de ter utilidade. O Filho bastardo tem o mesmo grau de legitimidade do que qualquer outro. A leitura é genética e não de valores. Os valores não são mais vistos como definitivos. Essa é uma mudança muito significativa e relevante. Na mesma linha, as relações amorosas passaram e passam pelo mesmo processo.
A meu ver, em ambos os casos, em direção a uma “verdade” essencial. Mais verdade e menos fantasia. Como deve ser tratado para o entendimento real dos fatos.
A ideia do mundo líquido espalha de forma abrangente esse conceito de constante mutação a todas as interações humanas e crenças individuais. A inconstância modificando e se impondo em todos os campos.
As relações líquidas não estabelecem nenhuma garantia. Se você tentar pegar na sua mão o que se entende como sua família, você não consegue. Não existe nenhuma garantia de que a sua relação com aquelas pessoas não podem se acabar a qualquer momento. Não há garantia de que uma pessoa que está ao seu lado agora vai estar com você em qualquer futuro próximo. Seja que tipo de parentesco você tenha com ela.
Segundo Bauman, nenhum tipo de relação, atualmente, tem qualquer tipo de idéia de solidez. São como água, se você apertar nas mãos, ela escorrerá por entre os dedos. A qualquer momento ela pode acabar não há nenhuma garantia de continuidade. Principalmente, porque as relações são alimentadas pelo mesmo princípio que rege cada vontade individual. Ou seja, eu mereço ser feliz e nada pode me impedir disso. Nem que seja só por um curto período. A idéia de doação para algo futuro parece ter desaparecido.
Quando a pessoa que estiver do meu lado não preencher os requisitos da felicidade a qual eu tenho direito eu a troco.
A visão líquida é um conceito de mundo sob a perspectiva de que nada está concretamente definido em sua própria definição.
Tudo pode e vai mudar. Necessariamente. É claro que, em se tratando de interações humanas, a mente e o pensamento é que vão determinar essas intensidades e direções. Essa visão, segundo o próprio Bauman, nos ajuda a tomar cuidado com essa ingenuidade de que você consegue ser uma entidade absolutamente individualizada e que isso vá solucionar todos os seus dilemas de vida. Os fatores são absolutamente voláteis e impossíveis de serem previstos. As variáveis são incontáveis. Isso detona qualquer idéia de estabilidade possível.
Sob essa perspectiva, todas as relações estão fadadas ao fracasso por serem determinadas por um sentimento individualista legitimado pela máxima de que ninguém é obrigado a suportar nada que não o faça “feliz”. Em momento algum. Ou seja, qualquer ponto de atrito liquefaz a relação. E, ele surgirá necessariamente, e com isso todos concordamos. O que antes era suportado como “fazendo parte”, hoje é visto como ponto de ruptura intransponível.
É difícil saber se esses movimentos são apenas um intermezzo entre a visão anterior e um outro pacto que ainda não vislumbramos.
O que me parece bastante claro é que Bauman é o pensador que melhor consegue compreender e descrever o que está ocorrendo no mundo, hoje.
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