Imagine-se sentado em uma sala junto de outras 6 pessoas
que se voluntariaram para participar de um experimento. Em uma folha, o
experimentador apresenta uma linha padrão e outras três linhas, e lhe pergunta
qual dessas linhas é igual a linha padrão. Apesar da resposta ser aparente, um
dos outros voluntários dá a resposta errada, depois outro, e assim por diante.
Você passa achar tudo aquilo estranho. Todas essas pessoas são loucas e cegas,
ou será que o louco sou eu?
O que você não saberia no momento do experimento é que
todos os outros voluntários são “atores” e, propositalmente, deram a resposta
errada. Esse foi o experimento de Asch, o qual surgiu a partir da questão: Se
uma quantidade considerável, ou todas as pessoas dessem respostas erradas, será
que nós insistiríamos na resposta errada ou nos conformaríamos e iriamos negar
a reposta correta? Asch constatou que 37% das respostas foram baseadas na
conformidade, ou seja, confiaram na resposta da maioria apesar de aparentemente
ser equivocada.
Baseado
nos resultados de seus experimentos, Asch (1995) comentou:
“O fato de indivíduos razoavelmente esclarecidos e
bem-intencionados estarem dispostos a chamarem a cor branca de preto é
preocupante. Isso levanta questões importantes em relação à nossas formas de
educação e os valores que guiam nossa conduta.”
Um estudo recente inspirado naquele de Asch, Christian,
Unkelbach e Memmert (2010) investigaram a relação entre o barulho dos
torcedores e a atuação de árbitros de futebol nas cinco divisões do campeonato
alemão. Ao analisarem 1530 partidas de futebol, constataram que times mandantes
recebiam em média 1.89 cartões amarelos, enquanto os visitantes recebiam 2.35.
Adicionalmente, a diferença foi maior em estádios mais barulhentos,
principalmente naqueles em que o a arquibancada era mais próxima do campo. Por
fim, em experimentos no laboratório, no qual árbitros deveriam avaliar
filmagens de faltas, aquelas acompanhados por um volume de barulho maior
eliciaram mais cartões amarelos.
Se as pessoas são tão facilmente influenciadas
socialmente, mesmo sem nenhum tipo de coerção, como seria se de fato fossem
coagidos. Pensando nessa questão, Milgram desenvolveu um dos mais importantes
experimentos da história de psicologia, mesmo que alguns tenham considerados
polêmicos e anti-ético. Nesse experimento, você se encontra dentro de uma sala
na Universidade de Yale com outro voluntário (o qual, novamente, era um ator)
que é colocado amarrado em uma cadeira e deve ser ensinado uma lista com pares
de palavras e, caso cometa um erro, deve ser punido com um breve choque
elétrico.
Os choques elétricos variam de 15 à 450 volts e vão aumentando de
intensidade à medida que o voluntário/ator comete erros. Quando você aplicava
um dos choques, o ator fingia dor, e à medida que a intensidade dos choques
aumentava, os gritos e pedidos de socorro também. Após certa intensidade, o
ator para de se debater gritar e se mantem em silêncio. Muitos voluntários já
estariam preocupados e pensando se o que está acontecendo é certo e se as
coisas realmente estão sob controle. Por incrível que pareça, a maioria dos
voluntários, mesmo sentindo em conflito, continuaram a aplicar os choques
elétricos aumentando-os gradativamente.
Recentemente, esse experimento foi replicado por Burger
(2009), o qual constatou que 70% dos voluntários continuaram obedecendo quando
os choques atingiram 150 volts, número um pouco menor daquele obtido por
Milgram.
O
que define a obediência?
Distância
emocional da vítima
Os voluntários no experimento de Milgram tinham mais
obediência quando a vítima não podia ser vista, e quando não se ouvia as
reclamações e gritos, todos obedeceram até o final. Quando a vítima estava na
mesma sala, apenas 40% continuaram obedecendo até atingirem 450 volts.
Esse efeito é comum no mundo cotidiano, principalmente em
pessoas que aproveitam do anonimato da internet para fazerem comentários
atrozes ou disseminarem mensagens de ódio. No mundo antigo (até hoje em
determinadas regiões do mundo) aqueles que seriam executados pelo carrasco
costumavam usar um capuz preto sobre a cabeça.
Autoridade
de quem dá a ordem:
Apenas 21% dos voluntários obedeciam a ordens dadas por
telefone
Autoridade
institucional:
Em entrevista após o experimento, muitos dos voluntários
relataram que obedeceram aos comandos pois tratava-se de um experimento
científico realizado em uma universidade de muito prestígio, e portanto, não
poderia ser algo negativo. Então Milgram realizou o experimento em uma
localização menos relevante e descobriu que apesar de ter havido uma redução
considerável, o número continuava alta (48% continuavam a obedecer).
Considerando todos os resultados desses estudos, temos a
impressão de que conformidade é algo completamente negativo e indesejável.
Porém, podemos pensar em situações em que a obediência à um líder ou à um grupo
pode ser positivo, como por exemplo, os bombeiros que corajosamente adentraram
os prédios que sofreram ataques terroristas em 11 de setembro de 2001. Outro
exemplo é quando um grupo de pessoas se mantem submisso à tirania. A partir do
momento em que os primerios indivíduos passam a se manifestarem contrários à
tirania, outros sentirão a liberdade para fazerem o mesmo. Milgram repetiu seu
experimento, dessa vez utilizando outros atores que estariam presentes na sala
e seriam contrários a continuar aumentando os choques. Apesar do experimentador
dar ordens para o voluntário continuar o experimento sozinho, 90% se recusaram.
Conclusão
Ambos os pesquisadores demonstraram que a conformidade
pode prevalecer diante do senso moral e conseguiram convencer pessoas à irem na
contramão de suas consciências, chegando a aplicar choques de intensidade
perigosa em outras pessoas.
De
acordo com Milgram (1974):
“Muitos indivíduos desvalorizam a vítima como
consequência de suas ações. Comentários do tipo “ele é tão estúpido e
preguiçoso que merece ser eletrocutado” foram muito comuns. A partir do momento
em que agiram contra sua vítima, muitos sentiram a necessidade de vê-los como
indivíduos sem valor e que sua punição seria inevitável”
A lição mais importante que podemos tirar desses
experimentos é que o contexto social é extremamente importante. E quando
lembramos das inúmeras atrocidades que ocorreram ao longo da história humana,
como o Holocausto, percebemos que dizer o que faríamos em situações hipotéticas
é muito mais fácil do que fazê-lo em uma situação real. Dos 14 homens que
formularam a Solução Final que deu origem ao Holocausto, 8 possuíam doutorado
de universidades europeias (PATTERSON, 1996), e muitos eram apenas pessoas
comuns (ZILLMER et al., 1995). De acordo com fontes, o líder dos ataques
terroristas contra as torres gêmeas, Mohamed Atta havia sido uma criança
comportada e estudiosa que vinha de uma boa família
Portanto,
como diria Milgram:
“A
lição mais importante de nossos estudos é que pessoas comuns, simplesmente
cumprindo seus papéis e responsabilidades, e que não apresentam hostilidade a
outros, podem se tornar agentes em um processo destrutivo.”
Guilherme Hebling Costa
____________________________
Nenhum comentário:
Postar um comentário