Fico sempre surpreendido quando vejo algumas pessoas a exigir o tempo dos outros e a conseguir uma resposta tão servil. Ambos os lados têm em vista a razão pela qual o tempo é solicitado e nenhum encara o tempo em si - como se nada estivesse a ser pedido e nada a ser dado.
Estão a esbanjar o mais precioso bem da vida, sendo enganados por ser uma coisa intangível, não aberta à inspeção, e, portanto, considerada muito barata - de fato, quase sem qualquer valor.
As pessoas ficam encantadas por aceitar pensões e favores, pelos quais empenham o seu labor, apoio ou serviços. Mas ninguém percebe o valor do tempo; os homens usam-no descontraidamente como se nada custasse.
Mas se a morte ameaça estas mesmas pessoas, vê-las-ás a recorrer aos seus médicos; se estiverem com medo do castigo capital, as verá preparadas para gastarem tudo o que têm para se manterem vivas. Tão inconsistentes são nos seus sentimentos!
Mas se cada um de nós pudesse ter um vislumbre dos seus anos futuros, como podemos fazer em relação aos anos passados, como ficariam alarmados os que só podem ver com alguns anos de antecedência e como seriam cuidadosos a utilizá-los! E, no entanto, é fácil organizar uma quantidade, por pequena que seja daquilo que nos está garantido; temos de ser mais cautelosos a preservar o que cessará num ponto desconhecido.
Mas não deves pensar que tais pessoas não sabem como é precioso o tempo.
Dizem com regularidade àqueles de quem são particularmente chegados que estão dispostos a dar-lhe alguns dos seus anos. E dão-lhos sem estarem conscientes dele; mas a dádiva é tal que eles próprios perdem sem acrescentar nada aos outros. Mas o que de fato não sabem é que estão a perder; assim, podem suportar a perda do que não sabem que se foi.
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