A
psicologia do desenvolvimento se ocupa de estudar o crescimento e maturação
humana ao longo do tempo, o que inclui aspectos físicos, cognitivos, sociais,
emocionais, de personalidade, entre outros. Ao compreender o processo normativo
de desenvolvimento, torna-se possível identificar potenciais déficits
psicológicos e oferecer intervenções adequadas.
Nesse
artigo apresento algumas das principais perspectivas acerca do desenvolvimento
humano, principalmente o desenvolvimento infantil, período ótimo para se
observar esses processos maturacionais. É importante salientar que em apenas um
texto não será possível abordar todos os detalhes e complexidade de cada
teoria, além de que existem outras perspectivas relevantes que não serão
incluídas aqui, por exemplo, as teorias de processamento de informação.
Perspectivas comportamentais
Behaviorismo
Watson,
considerado o pai do behaviorismo, acreditava plenamente na importância da
aprendizagem para o desenvolvimento humano (Horowitz, 1992). De acordo com ele,
a melhor forma de estudar e avaliar o desenvolvimento humano é por meio de
observações sistemáticas, ao invés de recorrer a especulações mentalistas. Além
disso, o desenvolvimento seria proporcionado pelo estabelecimento de
associações entre estímulos e respostas.
Dessa
forma, fica claro que nessa perspectiva o desenvolvimento de cada indivíduo irá
depender do ambiente no qual está inserido e, portanto, podem apresentar
considerável variabilidade. Ademais, essas idéias aumentaram a responsabilidade
que os adultos tem pelo futuro de suas crianças pais. De acordo com Watson:
“Faça
com que seu comportamento seja sempre objetivo, firme e gentil. Nunca os abrace
ou os beije, nunca permita que eles sentem no seu colo… aperte a mão [de seu
filho(a)] pela manhã. Dê-lhes algum agrado quando tiverem um bom desempenho em
alguma tarefa difícil… Dentro de uma semana você irá descobrir como é fácil ser
objetivo…, porém gentil. Você se sentirá envergonhado pela forma como sempre
tratou seu filho(a) de forma sentimental e piegas.”
Aprendizagem Operante
Por
meio de estudos com animais, Skinner propõe uma nova ideia sobre como aprendizagem
ocorre, mais especificamente, que animais (racionais e irracionais) emitem
comportamentos com mais frequência quando estes produzem algum resultado
positivo e diminuem quando ocorre algo negativo (1953). Algo que afeta a
frequência com que um comportamento específico seja emitido é chamado de
“reforçador”
A teoria de Skinner
afirmava que hábitos se desenvolvem como resultado da aprendizagem operante,
por exemplo, um garoto que, ao praticar bullying, é recebido com aplausos por
seus colegas, é reforçado e muito provavelmente se tornará mais agressivo ao
longo do tempo. Dessa forma, de acordo com a teoria da aprendizagem operante,
desenvolvimento humano não depende de instintos ou impulsos, mas sim de
estímulos externos (ambiente).
Teoria Social Cognitiva
Descontente
com a ideia de considerar apenas comportamentos observáveis e ignorar
pensamentos e sentimentos, Bandura sugeriu que aprendizagem observacional, ou
seja, ver alguém executar algo de forma adequado e funcional, é crucial no
processo de desenvolvimento.
Aprendizagem
observacional exige que mecanismos cognitivos estejam atuando, pois precisamos
nos atentar ao que está sendo feito, compreender e codificar as informações, e
armazená-las em nossa memória de longo prazo.
Bandura era um forte
defensor do conceito de determinismo recíproco, o
qual reflete uma interação entre o indivíduo, seus comportamentos e ambiente de
forma bidirecional. Dessa forma, todo indivíduo é agente ativo em seu
desenvolvimento, tendo a capacidade para agir no ambiente, o que irá por sua
vez influenciar seus comportamentos.
Uma
das principais críticas a esses modelos é sua aparente simplificação de
processos que podem ser muito mais complexos, por exemplo, não levando em
consideração fatores biológicos, genéticos e hereditários.
2) Perspectivas Cognitivas
Piaget
Um dos principais nomes do
desenvolvimento humano é Jean Piaget. Durante seu tempo
trabalhando na área de psicometria (testes, questionários, etc.) observou que
muitas crianças davam respostas das mais diversas e passou a se interessar o
porquê dessas diferenças.
De
acordo com Piaget, os indivíduos
estabelecem
esquemas cognitivos, ou seja, um padrão organizado de
comportamentos e pensamentos, que é utilizado para resolver determinado
problema ou situação. Portanto, crianças estão ativamente construindo novas
compreensões sobre o mundo e suas experiências. Diante de uma situação nova,
porém similar a outras anteriores, a criança é capaz de assimilação baseado em
suas experiências prévias. Quando a situação é muito diferente, a criança deve
adaptar seus esquemas cognitivos, um processo conhecido como acomodação.
Piaget
afirmava que nos dependemos continuamente do processo de assimilação e
acomodação: Nos tentamos compreender novas experiências ou situações usando os
esquemas cognitivos que já possuímos, porém muitas vezes estas não são o
suficiente e as revisamos e adaptamos (Piaget, 1952).
Vygotsky
Apesar
de muitos estudiosos aceitarem o modelo de desenvolvimento de Piaget, já foi demonstrado que este
subestimou consideravelmente a capacidade de crianças (Ellis & Bjorklund,
2005).
Vygotsky,
outro importante estudioso do desenvolvimento humano, criticou o fato de Piaget não ter levado em consideração
influências sociais e culturais sobre o desenvolvimento, sendo que muitas
crenças, valores, tradições e habilidades são transmitidas de uma geração para
a outra e dependem de toda uma história social.
Dessa
forma, Vygostky considerava o
desenvolvimento cognitivo como uma atividade socialmente mediada, na qual ela
adquire mais conhecimento de membros mais experientes e competentes da grupo no
qual está inserido.
Guilherme Hebling Costa
Referências
Bandura, A. (1977). Social learning theory. Englewood Cliffs, NJ:
Prentice-Hall.
Ellis, B. J., & Bjorklund, D. F. (Eds.). (2005). Origins of the
social mind: Evolutionary psychology and child development. New York: Guilford.
Piaget, J. (1952). The origins of intelligence in children. New York:
International Universities Press.
Skinner, B. F. (1953). Science and human behavior. New York: Macmillan.
Horowitz, F. D. (1992). John B. Watson’s legacy: Learning and
environment. Developmental
Psychology, 28, 360–367.
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